
-E por que você está pensando nisso agora, por quê?-falo com um tom incomodado.
-Porque sou realista seu Fernando, o senhor e eu sabemos, que seus pais não vão achar graça se terminar o noivado com a Dona Márcia para ter um romance comigo.-fala Lety em tom firme.
-Lety, não se precipite, deixa chegar o momento, aí depois...-falo tentando fazer com que Lety se convencesse.
-Eu sei que seus pais não vão me aceitar jamais, além disso, eu não me encaixo no seu mundo.-Lety fala aflita.
Olho para os lados confuso e digo:
-Meu mundo?-falo confuso.
-É...seus amigos, seu círculo...-fala Lety ainda aflita.-minha família é muito simples, já imaginou os meus pais, falando com os seus pais, seu Fernando?!
-Lety, sua família é muito mais honrada, do que muito gente desse círculo a que você se refere.-falo. Inclusive mais honrados do que eu mesmo, porque eu posso até me considerar como o rei da desonra, nunca fui honrado, nunca, em toda a minha vida, eu fui honrado.
-Disso eu sei, seu Fernando!-fala Lety decididamente. Só não sabe que eu faço parte do círculo da desonra, com um lugar honrado, diga-se de passagem.
-Pode acreditar!-afirmo com segurança e o motivo é bem claro, eu sei por experiência própria, o que é ser desonrado.
Lety suspira...
-Me desculpa mas, ainda acho que...eu não sou a mulher certa para o senhor.-fala Lety por fim.
Olho-a com desaprovação, aliás, nós olhamos, porque eu e meu outro eu, sabemos muito bem quem não é certo para quem, eu que não sou o homem certo para Lety, sou um desonrado, um depravado, um sem escrúpulos, um empresário de coração frio, que só pensa em si, e em se dar bem, não sou sensível, não me importo com o amor ou com as pessoas, eu que não te mereço Lety mas, você, você é pura, é honrada, é sensível, você é meu contrário, você tem uma luz, que brilha em minha escuridão, uma luz, que mesmo na minhas trevas, brilha inapagável, brilha e retira a minhas trevas.
Após o almoço o cenário era outro, estávamos sentados de frente para um jardim, sentados em cima de um para peito.
-Eu tinha pena de ver tanto sofrimento da Márcia ela era uma menina e...chorava muito Lety, por isso eu a consolei mas, no fundo eu estava chateado porque minha vida tinha mudado.-falo aflito.
-Quando os Vilarroel, chegaram a sua casa...-Lety completa.
-É...eles estavam desconsolados e...os meus pais...quiseram compensar a perda que eles tinham sofrido, entende, entende Lety?!-falo ainda aflito.
-Hum rum...aposto que a Dona Teresinha e o Seu Humberto gostavam muito dos irmãos Vilaroel.-fala Lety.
-É...antes de chegarem, eu estava acostumado com os meus pais vivendo só pra mim sabe, mas de repente apareceram os Vilarroel e eu tive que dividir os meu privilégios,-eu falava e Lety me olhava como se sofresse como eu estava sofrendo, ela observava atentamente enquanto eu falava, enquanto eu falava a ela, ela prestava atenção, ela mostrava sofrer comigo, sentir comigo.-eu me senti largado, Lety, eu...eu era o mais importante pros meus pais e deixei de ser, os meus pais, até chegaram a me dizer, que eu não precisava mais de tanta atenção como aqueles pobres meninos...-meus olhos se encheram de lágrimas e Lety continuava atentamente me consolando.-que tinham ficado sem os pais,-eu não aguentei mais e as lágrimas começaram a descer e me trair, as lágrimas da grande dor, que até então, eu nunca havia dividido com ninguém, eu nunca havia falado a ninguém, nunca, eu havia dito o que eu realmente sentia.
De repente o cenário muda e estamos em uma casa, em plena festa de aniversário com alguém mas, eu me lembro bem desse cenário, dessa casa, desse lugar, era o aniversário do Ariel, esse dia foi triste para mim, meu pai, deu para ele uma bicicleta, isso me doeu muito, bem eu sei que sou egoísta e tenho vários defeitos mas, me lembro como hoje, que meu sonho de infância era ter tido uma bicicleta, sei que você deve tá pensando, mas, você era rico, até os filhos dos pobres tem bicicletas, porque você, um filho de um grande empresário de sucesso, não teria; bem, eu não tive, lembro que eu até cheguei a pedir pro meu pai, sim, eu cheguei, porque meu amigo Eduardo, o Dado, ele tinha uma bicicleta e se divertia muito com ela e eu queria ser como ele, eu queria ter uma bicicleta para passear pelos bosques, pelas florestas, pelas estradas, eu queria aquela liberdade que o Eduardo tinha, eu queria sentir aquele vento da liberdade que ele sentia ao andar de bicicleta, sim eu queria e me lembro que fui pedir ao meu pai, ele me negou, eu implorei, implorei, chorei, fiz drama mas, ele me negou, afirmando que eu não precisava de uma bicicleta, porque eu já tinha motorista a minha disposição para onde eu quisesse ir, eu fiquei muito triste e decepcionado; e no dia do aniversário do Ariel ele ganhou uma bicicleta, eu não resisto a essa lembrança, sempre sofro ao lembrar, as lágrimas caem; dias depois, enquanto eu passava para brincar, ouvi o papai dizendo a mamãe, que Ariel havia pedido uma bicicleta e que ele deu para que ele não ficasse traumatizado, me lembro que ao ouvir aquilo, fiquei muito triste, revoltado, chateado, eu não entendia porque meu pai, parecia gostar mais do Ariel que de mim... não foram fáceis meus dias desde que Márcia e seus irmãos chegaram a minha casa, quem é filho único, assim como eu era antes deles, sabe, eu já estava acostumado, todas as manhãs minha mãe ia pessoalmente até minha cama, me dava um beijo carinhoso de bom dia e me acordava com todo amor do mundo, me abraçava, me tinha em seus braços acariciava meus cabelos rebeldes e beijava novamente minha testa com ternura, depois dizia que me amava mas, que eu
precisava ir a escola, mas depois que os Vilarroel chegaram, os criados da casa que me acordavam, com frieza e muitas vezes até com ignorância, não me davam bom dia, apenas batiam com força na porta de meu quarto e se eu não acordasse puxavam meu pé, eles me maltratavam, eu era criança, não sabia como me defender e quando eu levantava para ir para a mesa do café, eu passava pela porta do quarto onde os Vilarroel estavam, e eu via minha mãe, os beijando como me beijava, os abraçando como me abraçava, acariciando meus cabelos, como acariciava os meus, beijando suas testas como beijava a minha, dizendo que os amava como me dizia; me lembro que meu pai, sempre tirava um fim de semana inteiro para brincar comigo, para se dedicar a mim, nós nos divertíamos muito, ele que me ensinou a cavalgar, me lembro do meu primeiro pônei, ele se chamava Alado, papai que deu o nome para ele e sempre cavalgávamos juntos mas, depois que os Vilaroel chegaram, meu pai me largou, quando eu o chamava para ir ao clube cavalgar comigo, ele dizia que não podia porque tinha que ajudar minha mãe com os Vilaroel, e houve um tempo, que ele combinou comigo, de irmos passear no clube mas, ele levava os Vilaroel e quando Ariel, Márcia ou Ana Letícia caíam do cavalo, lá estava ele os socorrendo, Ariel fazia o maior drama, até se o cavalo triscasse nele, ele se fazia de doente para tomar toda a atenção do meu pai, me lembro também que em uma ocasião, eu levei uma grande queda, fraturei meu braço, porém, quando cai e comecei a chorar, meu pai nem ligou porque o Ariel havia se jogado no chão e ele me largou, me deixou chorando de dor para ir até onde estava o Ariel, o motorista, sim o motorista que trabalhava com a gente, foi quem percebeu que eu estava mal e me socorreu, meu pai só foi perceber a gravidade do minha fratura, quando o motorista me levou ao hospital para engessar mas, isso foi só o começo, me lembro que comecei a beber muito cedo, meus amigos, me ensinaram a beber, assim que entrei na faculdade, fui ensinado pelos meus amigos a pegar mulheres, não a ter compromisso com elas mas, a pegá-las, fui ensinado a enganar as mulheres, fui ensinado a querê-las por uma noite para me satisfazer e pronto, e que não podiam ser qualquer uma, não, não, tinham que ser as mais belas, eu não me importava, nesse tempo eu namorava a Márcia, por convenção familiar mas, deitava com outras, a traía e eu nem me importava, as mulheres mais feiinhas, eu as ignorava, mangava delas, eu não queria saber, sabe as vezes penso que se talvez, meu pai, tivesse me ensinado, eu teria me tornado em um ser humano, sim, em um ser humano, se minha mãe tivesse me educado, eu não seria o sedutor nojento que fui, eu teria sido um cavalheiro, todas as burradas que fiz em minha vida, foram consequências de todos os males que passei na época que eu mais precisava, hoje entendo tudo muito melhor, fui amadurecer depois dos 30, aprendi tudo que era para mim ter aprendido quando pequeno, agora e hoje eu sei, que por trás de toda tragédia há sempre um drama.
-Os meus pais tinham razão, aquelas crianças...precisavam muito de apoio mas, eu era muito menino...-eu chorava e Lety enxugava as minhas lágrimas com amor e sabem o que eu senti, eu senti o alento, eu senti o consolo, eu senti o apoio, o ombro acolhedor, eu sentia que sim, eu estava protegido, apenas com aquele gesto de enxugar as minhas lágrimas, Lety me fazia sentir mais forte e mais protegido, coisa que em minha infância eu precisava, agora penso, eu poderia tê-la conhecido em minha infância, naquele tempo em que eu me sentia só, triste e abandonado, mas, acredito que tudo tem um tempo certo.-...Lety e eu não conseguia entender bem o que acontecia.-e ela continuava enxugando minhas triste lágrimas, sim eu nunca havia contado isso a ninguém mas, a Lety não é ninguém, a Lety é a pessoa que eu mais confio em minha vida, até mais que minha mãe, eu confio nela.
Agora o cenário muda e sim, estou em meu quarto, fazendo a promessa que destruiria minha vida, a promessa de não perder mais nada para o Ariel, isso destruiu minha vida, essa competição sem fundamento, esse sentimento de rivalidade que me perseguia, eu deveria nunca ter me deixado levar por essa promessa, choro ao pensar que quase perdi a Lety e a empresa de meu pai, por causa dessa maldita promessa, porque, porque eu não arranquei meu coração, porque eu não fiquei mudo, porque eu não morri antes de fazer isso, essa promessa destruiu minha vida, minha vida que nunca foi lá essas coisas se tornou pior, a partir desse maldito momento, em que eu prometi vencer o Ariel sempre, eu não deveria nunca ter feito isso, isso nunca, nunca, nunca.
-Ai começou minha rivalidade com Ariel Vilaroel,-Lety sofria ainda comigo, sentia cada lágrima que escorria pelo meu rosto.-quer dizer aí começou a rivalidade dele comigo,- comigo ainda em prantos, ela pegou minha mão e a apertou e foi como se ela me cobrisse, como um cãozinho, um filhote de cão abandonado sendo abraçado por alguém, uma alma caridosa e boa, foi assim que me senti naquele exato momento.
-Desde aquela época, eu me sentia assediado pela Márcia, quase encurralado, sabe ela tinha boas intenções...mas, eu ficava muito mal, porque ela nunca me deixava sozinho, Lety. ela ficava...-mais um fato óbvio, a Márcia me sufocava, sempre me sufocou, som admito, me apaixonei por ela mas, ela, não preenchia meu vazio, sim, eu gostava dela mas, após um tempo eu sentia como se eu beijasse e dormisse com minha irmã e em tempo mais a frentes, eu sentia como se eu tivesse dormindo com inimigo e quando dormi com a Lety, eu vi que todas as mulheres que passaram pelo meu corpo, só passaram mas, a Lety não, ela permaneceu, ela continuou, ela estava preenchendo definitivamente aquele vazio que eu sentia, ela estava em meu coração, na minha mente, ela estava no meu ar, no meu corpo, na minha pele, sentir seu cheiro, já me fazia feliz, ouvir sua voz era como ouvir um som de pássaros cantando uma sinfonia de Bethoven, a Lety mudou meu mundo, não a Márcia, sim eu achei que era a Márcia mas, a Márcia, era um desejo sim, da minha família mas, não o meu, não o que eu esperava e com ela tudo era fingimento e jogo, joguei come ela, sim eu a tornei minha noiva para conquistar seu voto, admito, eu a tornei minha escrava, antes ela me manipulava, depois virei o jogo para mim, me aproveitei de seu amor e manipulei-a, até ela fazer o que eu queria, assim como joguei com tantas outras mulheres, me arrependo de tudo isso e sei que o que a Lety me fez sofrer, é apenas castigo, para tudo que pratiquei em minha infeliz vida.
-Se te fazia tanto mal, como virou namorado dela?-Lety me perguntou confusa.
-Bom...com o tempo, Márcia se tornou uma mulher muito atraente, e...eu admito, eu cheguei a me apaixonar por ela...-falo com um pouco de indiferença e como eu disse antes, aprendi com os grandes mestres da sedução a pegar as bonitas mas, ao mesmo tempo, percebi que através da Márcia eu poderia conseguir mais com meu pai, sim, eu poderia, e assim foi, choro só de pensar no mal que fiz a ela.
-Era isso que eu imaginava, Seu Fernando.-Lety conclui meu pensamento, enquanto enxuga as minha lágrimas.
-O...olha Lety, e-eu nunca contei isso para ninguém, você é a única que sabe.-eu coloco minha mão sobre a sua e aperto.-esquece tudo, faz de conta que eu nunca contei essa história tá?!-eu bato de leve em sua mão, enquanto sorrio.-apaga da sua mente. Hum!-bato novamente de leve.
Sim, eu nunca havia contado isso a ninguém, nem minha mãe desconfia. E sabe, essa é a diferença da Lety para Márcia e as outras tantas mulheres que passaram por mim, a elas, eu nunca havia me aberto tanto, eu não falava sobre mim, eu não dizia o que eu sentia, jamais, eu apenas as queria como companhia para uma noite mas, a Lety não, a Lety era tudo, minha amiga, minha companheira, minha confidente, meu alicerce, minha coluna, meu cérebro, meu braço, minhas pernas, minha cabeça, meu coração, minha vida, ela me fazia ou melhor ela tinha um jeito especial de me fazer feliz e livre, eu era imensamente feliz com ela, por isso eu a amava e tinha medo de perdê-la, mesmo mentindo, eu tinha medo de perdê-la.
#Continua_amanhã
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